Washington recorre ao blockchain para publicar dados econômicos

O Secretário de Comércio dos Estados Unidos publicará dados econômicos, incluindo o PIB, diretamente na blockchain. Apresentada na Casa Branca com Donald Trump, a iniciativa visa fortalecer a confiança e experimentar a blockchain na administração pública.

Quando a tecnologia se torna uma ferramenta de governança

O uso da blockchain por governos não é novidade. A Estônia abriu caminho já em 2016 ao proteger seus registros médicos por meio da blockchain KSI.

Hoje, esse sistema tornou-se a espinha dorsal de sua infraestrutura de identidade digital. A União Europeia lançou a iniciativa EBSI, um projeto transfronteiriço projetado para fornecer serviços públicos confiáveis e descentralizados.

Singapura e Austrália também experimentaram essa tecnologia para agilizar o comércio internacional em 2021, enquanto a Califórnia digitalizou mais de 42 milhões de títulos de veículos via Avalanche em 2024.

Essas iniciativas mostram que a blockchain não é mais apenas um campo de testes para criptomoedas, mas uma arquitetura potencial para estados modernos.

Inspirando-se nesses modelos, os Estados Unidos buscam não apenas inovar, mas recuperar a liderança em um campo onde Europa e Ásia ganharam espaço.

Transparência ou ilusão? Os limites de um registro infalsificável

No entanto, essa iniciativa levanta uma questão fundamental: os dados publicados na blockchain são tão confiáveis quanto sua fonte. Em outras palavras, se um número de PIB tendencioso for registrado, a tecnologia preserva o erro sem corrigi-lo. Ela garante a integridade do armazenamento e a rastreabilidade da divulgação, mas não a precisão.

O contexto político atual intensifica essa questão. Donald Trump questionou publicamente vários relatórios econômicos recentes, chegando a demitir a comissária do Bureau of Labor Statistics em agosto, acusando-a de manipular os números. Nesse clima, a blockchain torna-se uma ferramenta paradoxal, exibindo transparência sobre dados cuja objetividade continua contestada.

Assim, essa abordagem dos EUA pode ser vista como uma tentativa de recuperar a confiança do público e do mercado, mas também corre o risco de alimentar o debate sobre a politização das estatísticas econômicas.

Rumo a uma governança aprimorada pela blockchain?

A decisão americana marca um passo simbólico. Mostra que a blockchain não está mais restrita a start-ups ou gigantes de tecnologia, mas agora entra no núcleo das instituições. Se bem-sucedido, o experimento pode se estender a outras áreas sensíveis: censo, tributação e até resultados eleitorais.

No entanto, a tecnologia nunca substituirá a necessidade de governança honesta e metodologia estatística rigorosa. A blockchain é uma ferramenta poderosa, mas continua sendo um espelho: reflete a qualidade dos dados nela registrados.

Ao escolher colocar o PIB na blockchain, os Estados Unidos não estão apenas experimentando tecnologia, mas redefinindo a relação entre transparência, confiança e poder. Enquanto isso, a capitalização de mercado das criptomoedas atinge 3,8 trilhões de dólares, em breve superando o PIB do Reino Unido.