Arthur Hayes: Apostar pesado em ZEC foi um conselho de um especialista; os melhores investidores precisam lidar com conflitos internos

Fonte: CounterParty TV
Tradução｜Odaily Ethan

Nota do editor: Se você quer saber como uma pessoa que realmente “vive o mercado” enxerga o mundo cripto atual, vale a pena ouvir Arthur Hayes.

Nesses dias de volatilidade contínua no mercado cripto, o BTC caiu de abaixo de 100 mil para, três dias depois, cair novamente abaixo de 90 mil dólares, enquanto o ZEC, impulsionado pela “sequência de calls” de Hayes, atingiu novas máximas na contramão do mercado. Em 17 de novembro, dados do CoinGecko mostraram que o valor de mercado do ZEC ultrapassou 11.7 bilhões de dólares, subindo para a 15ª posição entre as criptomoedas. Até o momento desta publicação, o ZEC está cotado a 609 dólares.

No final da tarde de 14 de novembro, Hayes participou do CounterParty TV, apresentado pelo influenciador Threadguy na comunidade cripto, e mais uma vez compartilhou suas opiniões afiadas na véspera de uma possível virada de ciclo:

• A única maneira de capturar o próximo ponto de explosão é estar na linha de frente, próximo ao mercado;
• O ambiente macro atual é extremamente favorável para cripto;
• Para quem tem paciência, reservas de capital e sabe controlar alavancagem alta, agora é uma oportunidade excelente para alocar ativos de forma responsável;
• Não devemos colocar ouro e bitcoin como opostos, eu possuo ambos;
• No fim das contas, o que eu quero é drama, quero ver gente xingando e gente comemorando, isso mostra que apostei certo.

Na visão de Hayes, o sentimento é um indicador em si, e aquelas tendências consideradas “vulgares”, questionadas e não reconhecidas pelo mainstream, muitas vezes são o ponto de partida de um novo ciclo. Desde a criação do contrato perpétuo da BitMEX até agora, apostando fortemente em ZEC, HYPE e na narrativa da privacidade, sua visão de mundo permanece afiada: para entender o mercado, é preciso mergulhar na linha de frente e encarar os desejos mais reais das pessoas; tendências pequenas e ridicularizadas às vezes têm mais chance de se tornar grandes Alphas do que as chamadas “narrativas ortodoxas”.

A seguir, o conteúdo original da entrevista, traduzido por Odaily. Para facilitar a leitura, o conteúdo foi editado e resumido.

Abertura

• Apresentador: Seus tweets sempre transmitem otimismo, e sinto que, entre a maioria dos institucionais e VCs do cripto, você parece ser o mais ativo no mercado de liquidez e mais próximo do clima real do Crypto Twitter. O que você acha?

Arthur Hayes: Sempre gostei muito desse clima “raiz” do setor cripto. Já estou nesse ramo há doze anos, entrei em 2013. Antes disso, trabalhei cinco anos no Citibank e no Deutsche Bank. No fim das contas, meu tempo no cripto já é mais que o dobro da minha carreira anterior. Essa é minha vida, eu realmente amo esse setor.

O clima raiz significa estar próximo do mercado. Para capturar o próximo ponto de explosão, a única maneira é estar na linha de frente, próximo ao mercado. Embora eu mesmo não estude NFT ou meme coins todos os dias, se você não se mantém sensível às tendências do setor, pode acabar apenas seguindo passivamente as “criptos ortodoxas” que as instituições tradicionais falam, como bitcoin, ethereum, solana, e geralmente essas estratégias já chegam com pelo menos dois anos de atraso.

• Apresentador: Você acha que existe um descompasso entre o mercado de VC cripto e o mercado de liquidez on-chain?

Arthur Hayes: Não, não é realmente um descompasso, mas sim um resultado inevitável do modelo de incentivos. Esses fundos de venture capital seguem um modelo de incentivos específico, que molda fundamentalmente sua lógica e comportamento de investimento. Se eles precisam captar recursos de limited partners e cobrar taxas de administração conforme a estrutura, naturalmente vão agir dessa forma.

Isso explica por que a maioria dos VCs cripto tem retornos inferiores ao bitcoin e ethereum no longo prazo. Na verdade, em todo o setor de venture capital tradicional, exceto alguns fundos de topo como a16z e Sequoia Capital, a maioria dos fundos tem dificuldade de ser lucrativa, e seus retornos nem superam o S&P 500 ou o Nasdaq. O investidor paga taxas altas e, no fim, teria mais retorno comprando um ETF de baixo custo, que supera facilmente 99% dos fundos de VC do mercado.

Já conversei com um investidor de family office e perguntei por que ele continua investindo em fundos de desempenho medíocre. Ele admitiu que, muitas vezes, é por “sentimento”. Eles gostam de ser cortejados por banqueiros engravatados, de serem bajulados, e essa satisfação emocional muitas vezes supera a busca por retorno puro. É da natureza humana, todos gostam de ser valorizados e reconhecidos.

Portanto, não é que os dois mercados estejam desconectados, mas sim que atendem a uma necessidade psicológica central de seu público, mesmo que isso nem sempre se traduza em bons retornos financeiros.

• Apresentador: Muitos dos nossos espectadores são novatos, provavelmente entraram no hype de Solana e meme coins em 2024. Mas antes de continuarmos, você pode se apresentar brevemente?

Arthur Hayes: Entrei no setor de criptomoedas em 2013. Antes disso, fui market maker de ETF no Citibank e no Deutsche Bank em Hong Kong. Depois saí do setor financeiro tradicional e, por acaso, li o whitepaper do bitcoin na primavera de 2013, quando o bitcoin estava por volta de 200 dólares. Sempre tive muito interesse em ouro e política monetária, então aquele whitepaper me impactou profundamente. Como alguém que estudou história financeira, senti que essa tecnologia poderia ser tão revolucionária quanto a imprensa.

Olhando para trás, sou grato por ter economias suficientes na época para não precisar buscar outro emprego imediatamente, e pude ficar no sofá de um amigo e tentar construir um negócio financeiro baseado em bitcoin — foi aí que começou a história da BitMEX. Queria criar uma exchange de derivativos que eu mesmo, como trader, gostaria de usar. Em 2014, conheci os cofundadores Ben Delo e Sam Reed, e juntos fundamos a BitMEX. Em 2016, lançamos o contrato perpétuo e, em 2018, a BitMEX já era uma das maiores exchanges de criptomoedas do mundo. Depois enfrentamos desafios legais do governo dos EUA, chegamos a correr risco criminal, mas felizmente fomos absolvidos.

Hoje, gerencio meu próprio capital em operações e também administro a Maelstrom, participando de investimentos em tokens early stage e atuando como conselheiro.

Estratégia Macro

• Apresentador: Pelo que você tem dito, está muito otimista com o ciclo atual e o futuro. Estou curioso, como você está posicionado agora? Viu o bitcoin a 98 mil dólares hoje cedo, o que achou?

Arthur Hayes: O fundo Maelstrom já investiu cerca de 98% do capital, restando pouco caixa. E muitos dos nossos preços de entrada são baixos, então, sinceramente, a volatilidade de curto prazo não me afeta muito. Não me preocupo com isso. Nunca usamos alavancagem, o que me permite ver o mercado com mais calma e objetividade. Entendo que muita gente está alavancada em posições longas, e isso é realmente angustiante. Você precisa acertar a direção, o timing e ainda pagar taxas de financiamento. Muitos erram justamente por isso, tomando decisões ruins em momentos críticos.

Por exemplo, você está otimista, mas se o preço não sobe 1-2% em 24 horas, já fica nervoso. Vê o bitcoin cair alguns pontos, até romper o psicológico dos 100 mil dólares, e está alavancado, queimando dinheiro todo dia — é fácil perder a paciência e realizar prejuízo. Acho que esse é o maior problema da maioria hoje.

Mas minha visão? Acho que o ambiente macro atual é extremamente favorável para cripto. Ainda estou comprando, principalmente aumentando posição em ZEC. (Motivos para comprar ZEC serão explicados depois)

Claro, nem todas as altcoins estão subindo. Mas se você segurou HYPE e ZEC nos últimos 18 meses, como trader, seu desempenho deve estar muito bom. Sim, sei que 99% dos outros tokens estão caindo, mas é assim que o mercado funciona, sempre há rotação.

E eu gosto muito do mercado atual. Para quem tem paciência, reservas de capital e sabe controlar alavancagem alta, agora é uma oportunidade excelente para alocar ativos de forma responsável.

Se você lembrar de novembro e dezembro de 2021, a bolsa estava em máxima histórica, todo mundo feliz, e o que diziam os bancos centrais? O Fed dizia que precisava desacelerar a economia e anunciou alta de juros a partir de março de 2022. Se você olhar o gráfico do ciclo de alta de juros, verá que ele subiu nitidamente.

Comparando com agora, aquele ciclo de alta já atingiu o topo. O crescimento do crédito praticamente parou. Passamos do topo e começamos a descer. Agora, os dirigentes do Fed falam em falta de reservas no sistema, talvez retomem o quantitative easing ou parem de enxugar o balanço. Se você pesquisar se os bancos centrais estão em ciclo de afrouxamento ou alta, verá que a tendência principal agora é de corte, não de alta.

Os políticos só falam de IA, imigração, e o foco é: “vou dar benefícios”, mas ninguém fala em aumentar impostos de verdade. Às vezes falam em taxar o top 0,01% porque soa bem politicamente, mas isso não resolve o rombo fiscal. Todos prometem “almoço grátis” e dizem “você não vai pagar”, só precisa votar neles. Então, nos próximos 12 a 18 meses, como o crédito vai encolher? Não vai, porque o ciclo de política é o oposto do que era no topo de 2021.

O mercado está fraco porque estamos em transição — o ponto de virada será quando o Fed e o Banco Popular da China realmente começarem a imprimir dinheiro em massa. Os EUA têm eleição em 2026, duas semanas atrás os republicanos foram mal em estados-chave como Nova York e Virgínia. Trump é esperto, sabe como vencer. O “socialismo” dos republicanos é IA, data centers, indústria militar, perdão de hipoteca; o dos democratas é mudança climática, justiça social, comida grátis, transporte público. O dinheiro vai para lugares diferentes, mas continua sendo impresso. Para nós do cripto, liquidez é tudo.

O sistema é uma reação ao excesso de emissão de moeda. Veja os dois maiores partidos das maiores economias do mundo: ambos querem gastar. Chame de “socialismo”, “política industrial”, “capitalismo”, tanto faz, é só marketing para públicos diferentes. O importante é olhar o que fazem, não o que dizem. Eles sempre usam retórica para confundir, mas a ação é uma só: imprimir dinheiro. E não pretendem pagar com impostos, mas sim com imposto inflacionário — a forma politicamente mais aceitável de resolver o endividamento global dos últimos 40-50 anos.

• Apresentador: Qual seria a condição para sua visão otimista falhar?

Arthur Hayes: Lembro que nos anos 1920, por volta de 1929, 1930, o secretário do Tesouro Andrew Mellon, um famoso banqueiro, discutia como o governo Hoover deveria lidar com o início da Grande Depressão. Não lembro as palavras exatas, mas a ideia era deixar todos os problemas explodirem, fazer quem se endividou e gastou demais pagar o preço, limpar o sistema, só assim o país voltaria aos trilhos.

Na verdade, a frase original é melhor, mas estou parafraseando. O sentido era: você tomou muitos empréstimos, mas o que fez não gerou receita suficiente, então deveria falir, e o governo não deveria te salvar.

No início dos anos 30, aquela grande contração do crédito causou a Grande Depressão, está nos livros de história. Mas o Mellon, que disse “não deve salvar”, sumiu da política, e Hoover perdeu feio na eleição seguinte. Esse tipo de política é impopular. Hoje, em qualquer lugar do mundo, qual político ousa dizer “se você errou nos investimentos, o governo não vai te salvar”? Nenhum. Só o Milei na Argentina, mas ele não tem peso no G7.

Ninguém ousa implementar política de aperto de verdade, porque muita gente perderia emprego e os ricos perderiam patrimônio. Seja democracia ou não, isso não passa nem na urna nem no partido.

• Apresentador: Por que os usuários nativos de cripto sentem que estamos negociando no pior mercado do mundo? (Ações e ouro em máximas, tudo enlouquecido) Se você tem ZEC ou outro token, pode ter perdido muito nos últimos três meses. Como explica o desempenho ruim do mercado cripto?

Arthur Hayes: Você mencionou “últimos três, seis meses”, esse timing é crucial. Se você comprou bitcoin em janeiro de 2025, talvez esteja no zero a zero ou até com prejuízo; se comprou certas altcoins, pode ter perdido mais. Mas se olhar dois anos atrás, quem comprou bitcoin está no lucro. Ou quem entrou em 9, 10, 11 de abril deste ano, já subiu 30%, 40%. Então, se você entrou recentemente ou abriu posição alavancada agora, entendo que esteja perdendo.

Mas olhando a história do bitcoin, é o ativo de maior retorno acumulado da história. Onde está o problema? Se você conheceu hoje e espera que suba imediatamente conforme seu desejo, o mercado não vai te atender. Isso é impaciência humana, agravada pelo uso excessivo de alavancagem, ignorando que certos ativos precisam de tempo para superar outros.

Dê tempo suficiente, com bancos centrais imprimindo dinheiro, o bitcoin vai provar ser o melhor ativo, e algumas altcoins bem escolhidas podem ir ainda melhor. Mas se você julga por um ciclo de três meses, é igual a apostar em jogo de azar.

• Apresentador: É irônico, mas interessante, que o inventor do contrato perpétuo não use alavancagem atualmente.

Arthur Hayes: Porque eu não sou um trader de alta frequência. Alavancagem não é ruim, mas se quiser operar alavancado, esqueça dormir — tem que estar sempre com o celular, despertador pronto, de olho no mercado. Tem que entender variação de posições, séries temporais, hábitos de negociação em diferentes horários, quem domina o mercado asiático, como flui o dinheiro na Europa e EUA… esses detalhes são básicos para quem opera alavancado.

Se não consegue se dedicar 24/7, melhor não mexer com alavancagem. Esse ramo exige atenção total, 365 dias por ano. Se pensa em operar só no tempo livre, vai cair em armadilhas. De novo, o problema não é a ferramenta, mas o foco do trader.

• Apresentador: Como você vê o bitcoin tentando alcançar o ouro? Você acha que o risco percebido de ouro e bitcoin é diferente? O que pensa sobre quem acredita que o bitcoin ainda vai subir para compensar? Como vê isso?

Arthur Hayes: Por isso, uma grande parte da minha carteira é ouro. Para ser exato, quase 100% dos meus investimentos fora do cripto são em ouro físico e ações de mineradoras de prata. Minha visão geral é: bitcoin é a resposta do cidadão comum para proteger contra desvalorização da moeda. Qualquer americano pode ter muito bitcoin sem ser rastreado.

Mas os presidentes de bancos centrais enfrentam outro tipo de problema. Se você é presidente do banco central dos EUA, tem que garantir que a moeda do país resista à inflação, que é causada pela política do próprio governo. Nos últimos 10 mil anos, tanto estados soberanos quanto indivíduos usaram ouro para isso.

Se eu fosse um tomador de decisão de alto nível, ou representasse um governo, preocupado com congelamento de ativos pelos EUA ou inflação causada pelo excesso de dívida, escolheria ouro. É a solução testada há milênios. Não escolheria bitcoin — afinal, ouro tem 10 mil anos de história, bitcoin só 15. Se eu fosse um decisor estatal, escolheria o que foi validado por milênios.

Além disso, operacionalmente: temos cofres, guardas armados, sabemos custodiar ouro. Não preciso aprender a gerenciar chaves privadas ou custódia cripto. Tenho força legítima, armas e bunkers para proteger ativos — por que complicar com bitcoin? Por isso, o ouro atende à demanda dos estados. Por exemplo, quando os EUA congelaram ativos da Rússia, outros países pensaram: “e se acontecer comigo?”, e repatriaram ouro para proteger com seus próprios exércitos.

Mesmo que eu tenha bitcoin na conta pessoal e acredite nele, do ponto de vista estatal nunca usaria como reserva. Então, minha lógica de investimento é: ter o que os estados usam para proteger contra desvalorização (ouro e prata) e o que as pessoas comuns querem comprar (bitcoin e altcoins selecionadas).

Os dois têm correlação, mas volatilidade diferente, são a mesma lógica para públicos diferentes. Por isso, aposto nos dois. Acho que não devemos opor ouro e bitcoin. Em fevereiro de 2022, quando os EUA imprimiram dinheiro loucamente, quem mais comprou ouro? Os bancos centrais. Você acha que conflitos geopolíticos e polarização ideológica vão diminuir? Se sim, compre ouro, porque os estados vão fazer isso. Acha que a inflação global vai continuar? Se sim, compre bitcoin, é a ferramenta de autodefesa do cidadão na era digital. Quero lucrar nos dois caminhos, por isso digo que não é uma escolha entre ouro e cripto, embora minha exposição em cripto seja maior. Para mim, não são excludentes, mas estratégias complementares.

Moedas de Privacidade

• Apresentador: Foi o Naval que te deixou tão fascinado por ZEC? Como foi isso? Lembro que você disse que a BitMEX foi a primeira a listar ZEC, foi logo no lançamento ou vocês criaram o produto de derivativos depois?

Arthur Hayes: Na verdade, fomos os primeiros a lançar contratos futuros. Em 2016, ZEC era um dos tokens mais quentes. Zooko fazia apresentações por todo lado, todos estavam empolgados com privacidade, dizendo “precisamos de privacidade no bitcoin”. Estudei ZEC a fundo, mas eles optaram por uma distribuição de tokens mais lenta.

Basicamente, usava mineração como o bitcoin, mas começou sete anos depois. Então, antes de haver tokens em circulação, já lançamos futuros de ZEC.

No outono de 2016, éramos a única plataforma para negociar, e os contratos eram insanos. Depois, a mainnet foi ao ar no fim de 2016, e o preço na Poloniex (primeira exchange spot) disparou para cerca de 3.000 dólares por token. Isso porque não havia oferta — a mineração estava só começando. Com o aumento da inflação e oferta, o preço caiu naturalmente.

Minha maior dúvida sobre ZEC era o trusted setup. Precisávamos confiar que destruíram as chaves, e fizeram até uma performance: transmitiram ao vivo jogando o notebook com as chaves no lixo. Outro ponto era o imposto de mineração de 20% para o time fundador, mas isso é questão de escolha, afinal, o time precisa comer. O mais crítico era: a maioria dos tokens em circulação no início nem usava privacidade, então qual a diferença para o bitcoin? E como nasceu sete anos depois, tinha menos efeito de rede, parecia uma cópia piorada.

Por isso, fiquei muito tempo sem olhar para ZEC. Até que, antes de um jantar com o Naval, dei uma entrevista sobre moedas de privacidade. O repórter perguntou: “O que acha do ZEC subir 100% em uma noite?” Respondi: “Interessante, mas não acompanhei.” Depois vi que foi o Naval que impulsionou no Twitter, mas não dei bola.

No jantar, havia umas 40 pessoas, e conversei com o Naval. Parabenizei pelo ZEC, e ele disse: “É minha segunda maior posição, acho que é o último ativo do cripto que pode multiplicar mil vezes.” Fiquei animado, e ele rebateu todas as minhas dúvidas de 2016. Perguntei: “E a Monero? Não é mais segura?” Ele explicou que, na era da IA, com vazamento total de dados e vigilância estatal, até a Monero foi rastreada pela polícia no Japão. Eu já tinha ouvido isso, anotei para checar depois. Ele disse: “Se minha tese estiver certa, e as pessoas voltarem a valorizar privacidade, isso pode explodir.” Sei que ele é um investidor top, com histórico incrível. Ultimamente sigo a lógica do Soros: “invista primeiro, pesquise depois”, então decidi montar posição, grande o suficiente para me importar, mas pequena o bastante para não doer se perder 50%.

No jantar, já pedi para meus brokers comprarem ZEC. Curiosamente, 6 de 8 recusaram, o que me deixou ainda mais interessado. No fim, consegui a primeira posição. No dia seguinte, em casa, fui checar os pontos do Naval: 1. Eles resolveram o trusted setup com o upgrade Halo2; 2. A polícia japonesa realmente rastreou Monero; 3. O imposto de mineração de 20% foi abolido há dois anos.

Percebi que a narrativa da privacidade está voltando. Hoje, os cripto OGs reclamam que o bitcoin foi capturado por instituições, todo mundo só olha o que Larry Fink diz, o que Jamie Dimon pensa, as regras da SEC e CFTC. O Congresso discute leis cripto, bancos e gestores falam de ETF… Isso não é o bitcoin que buscávamos. Precisamos resolver a privacidade, algo para as pessoas comuns.

Então comecei a comprar pesado, e o resultado foi claro: o bitcoin caiu de cerca de 110 mil para menos de 100 mil dólares, enquanto o ZEC disparou. Gosto desse tipo de ativo vibrante, com amor e ódio na internet. No fim das contas, quero drama, quero ver gente xingando e gente comemorando, isso mostra que apostei certo. O pior é investir em token que ninguém comenta, ativo morto só deprime, melhor investir em outro lugar.

ZEC tem atenção, então vale a aposta, e vou aumentar posição gradualmente, concordo totalmente com a visão do Naval. Acho que pode chegar a 20% do market cap do bitcoin, já defini meta de preço e plano de investimento, e praticamente terminei de montar posição. Se cair para 400 e poucos dólares, talvez compre mais, mas agora, em torno de 500, está bem firme.

Usei a carteira Zashi com hardware Keystone por um bom tempo, para entender todos os detalhes técnicos, estou pronto para ir com tudo.

• Apresentador: Alguns dizem que nos próximos cinco a dez anos o setor cripto vai adicionar uma camada de privacidade ao sistema existente, “ZK-izar” tudo, e privacidade será o novo padrão e foco principal. Você concorda? Acha que os próximos 5-10 anos serão a “década da privacidade” no cripto?

Arthur Hayes: Com certeza, porque estamos realmente diante de uma IA superinteligente. Não importa se é AGI de verdade ou não, o essencial é que temos um computador de simulação altamente inteligente, um motor de previsão — e o governo vai usá-lo para controlar todos os aspectos da nossa vida digital. Para ser sincero, todos somos cúmplices, porque amamos nossos smartphones com redes sociais. É a maior entrega voluntária de dados da história: entregamos fotos, localização, conversas, só para ficar conectados. Buscamos esse senso de comunidade e poder computacional, ao custo da privacidade total.

Se quiser rastrear transações cripto para tributar ou monitorar fluxos, é fácil. Sem proteção ZK, todos os dados que comprovam sua identidade — não só quem é “Arthur Hayes”, mas se é humano ou máquina — ficam nos sistemas. No novo mundo digital, provar “quem é você” é crucial, mas estamos entregando cada vez mais dados.

Minhas informações pessoais estão espalhadas em milhares de sistemas, isso é péssimo. Agora falam em usar provas de conhecimento zero para identidade (ZKYC), e acho que proteger identidade e dados online será cada vez mais importante. Quem quiser rodar IA sem expor informações ao mundo vai buscar soluções cripto.

O comportamento do usuário vai depender cada vez mais de ZK. Concordo totalmente com essa tendência. Quando as pessoas perceberem o perigo de motores de previsão poderosos (como LLMs) combinados com governos que querem tributar, controlar e espionar pensamentos online, essa consciência vai se espalhar. As pessoas vão reagir, vão exigir privacidade. Talvez seja a chance de criptos como ZEC. Acredito que isso vai virar um movimento — cada vez mais gente está despertando.

Estratégia

• Apresentador: Como você equilibra essa visão de longo prazo com operações de curto prazo? Com o seu tamanho de capital, como divide essas estratégias?

Arthur Hayes: Acho que é como Stanley Druckenmiller diz: os melhores investidores conseguem manter duas ideias contraditórias na cabeça ao mesmo tempo. É preciso acreditar no potencial de longo prazo, mas também buscar lucros de curto prazo. Para a Maelstrom, quero aumentar ao máximo a posição em bitcoin. Tudo que fazemos é para gerar retorno, pagar bônus e comprar mais bitcoin.

Então, para mim, posso comprar HYPE barato, vender caro, lucrar e recomprar na baixa, enquanto mantenho a visão positiva sobre seu potencial e a execução do time do Jeff. Diferente da maioria, já tenho uma posição relevante em bitcoin; como trader, meu trabalho é buscar oportunidades de curto prazo em cima disso.

Se você me diz que é artista ou tem outra profissão, acredita que pode multiplicar 126 vezes, então não importa a volatilidade de 6-12 meses, é só segurar. Mas eu sou um investidor ativo, busco oportunidades de curto prazo. Se acho que vem um período fraco, com competição e compressão de valuation, vendo e espero o próximo ponto de entrada. Se o projeto provar que supera concorrentes, como disse ao Jeff, admiro o que fazem, mas isso leva tempo para ser validado. Ainda acredito que HYPE pode multiplicar 126 vezes, ou não, vou esperar para ver, tenho tempo.

• Apresentador: Como inventor do contrato perpétuo, você não participou diretamente da construção de protocolos como Hyperliquid. É estranho ver o desenvolvimento deles?

Arthur Hayes: Não, acho ótimo, porque posso esquiar e malhar, sem gerenciar equipe ou lidar com problemas (CZ, vai lá, cumpri minha missão). Agora tem jovens cheios de energia, fico feliz por eles. Quero ver a Hyperliquid tornar a CME irrelevante. Se isso acontecer, ficarei muito feliz, não preciso lucrar com isso.

É só aquele sentimento de “foda-se, derruba eles”. Sei várias histórias sobre eles. Quero ver Hyperliquid ou qualquer outro protocolo dar às exchanges tradicionais uma escolha: adote contratos perpétuos ou morra. Se um dia a CME transformar todos os produtos em perpétuos, isso prova que nosso modelo foi bem-sucedido e virou padrão global. Se o time do Jeff, com 11 pessoas (confirmei com eles num jantar), conseguir derrubar todas as bolsas tradicionais, vai ser incrível, fico feliz por eles.

• Apresentador: Incrível, só 11 pessoas? E a BitMEX no auge, quantos eram?

Arthur Hayes: Chegamos a 250 pessoas, sempre falando de construir equipe. Mas, sinceramente, conversando com o pessoal da Hyperliquid, chegamos à conclusão: melhor manter time pequeno. Quanto mais gente, mais bagunça — hoje resolve problema de RH, amanhã conflito de equipe, depois pensa em demitir alguém.

No fim, se o time cresce demais, como CEO você só cuida de gente, não pensa em ganhar dinheiro. Não chega a ser como o CZ com 3-4 mil pessoas, mas 250 já é muito. Prefiro time pequeno.

• Apresentador: Alguns acham que veremos mais hype, mais pumps, mais tokens como Uniswap, que geram 1-2 milhões de dólares por dia e repassam isso aos holders, em vez de só governança. O que acha? Veremos mais projetos assim?

Arthur Hayes: Acho que sim. Em todos os ciclos que vivi, o mercado cripto sempre caminhou para isso, mas antes era só discurso, na prática não acontecia. Veja o gráfico da UNI, de 35-40 para 3-4 dólares. Veja dYdX, falavam de listagem permissionless, em 2021 o market cap chegou a 200-300 bilhões, agora morreu. Ganharam dinheiro, mas os holders não viram nada.

Além disso, as altcoins lançadas em 2023 e 2024 são, em sua maioria, de FDV alto e baixa liquidez, sem product-market fit, sem usuários, sem receita, ou, se têm receita, não repassam aos holders, e o mercado pune — hoje o varejo não quer comprar. Então, o projeto tem que ser bom e beneficiar os holders. No fim, projetos como Hyperliquid mostram que não precisa de VC, só de um time técnico foda e compartilhar riqueza com holders para ter sucesso.

Por que comprar tokens para ajudar no pump se vocês usam regulação, governança, DAO como desculpa para não repartir? Quando converso com fundadores, digo para aprender com Hyperliquid, olhar o gráfico deles. Você pode escolher ser como Berachain e só cair. Quem você quer ser? Smokey ou Jeff? Ambos ganharam dinheiro, mas um é querido, o outro se esconde.

O mercado já mostrou qual modelo de token funciona. Uniswap decidiu distribuir taxas, o token subiu. Meu position não é grande, até perdi um pouco, mas é uma tendência. E, finalmente, depois de três ciclos de altcoins, chegamos a um estágio claro: ou reparte, ou zera. Você escolhe.

• Apresentador: Muitos OGs dizem no Twitter que esse é o pior ciclo da história, sem comparação. Solana saiu de 8 dólares no fim de 2023 para o preço atual. O que acha desse ciclo? Especialmente comparando com ciclos anteriores?

Arthur Hayes: Todo ciclo tem seu tema, e sempre tem quem ganhou na rodada anterior criticando os novos projetos, dizendo que não são “sérios”, que é brincadeira de criança.

Mas, no fundo, é só frustração porque não é mais o ciclo deles. Não me importo com isso.

Sempre acreditei em uma coisa: tudo está no preço. Em cripto, o mais importante é o próprio “preço”. O mercado existe para permitir que todos negociem esses ativos, esse é o sentido do cripto.

É volátil, e isso não é ruim. Inovações tecnológicas sempre começam “vulgares”. Quando o cinema começou a ter som, o pessoal da era Chaplin achou ruim; quando surgiu a TV, minissaia, também chamaram de “vulgar”; a internet, idem. Então, se me dizem que meme coins são “vulgares”, NFT é “arte lixo”, ok, vou comprar meme coin.

Porque essas coisas “vulgares” são o início do próximo ciclo. O próximo “Guggenheim” está escondido aí. Sempre que ouço muitos dizendo “isso não presta”, “não é maduro”, sei que é hora de comprar. É um sinal claro do mercado.

• Apresentador: Como você consegue não “ficar para trás”? Você já ganhou muito dinheiro, não ficou acomodado, mas continua sensível à linha de frente. Como faz isso?

Arthur Hayes: Mantendo contato com pessoas, especialmente quem realmente se interessa pelo setor.

Gosto de ir a eventos, visitar estandes, ver o que estão vendendo, o que os jovens estão fazendo. Se você só fica no topo, ouvindo private bankers recomendando títulos do governo, ETF de bitcoin, pode até ganhar dinheiro, mas vai envelhecer e se tornar rígido.

Se o bitcoin não se move, zera. Com pessoas é igual. Se não se mexe, não se mantém ativo, você calcifica e morre.

Quero viver mais tempo neste universo, então preciso me mexer. Seja malhando ou conversando, tem que estar em movimento. Se você se recusa a ir à linha de frente, não lê tweets de jovens, não vai a eventos, não escuta os outros, vai acabar sentado, bebendo uísque, ouvindo dica de investimento, engordando, envelhecendo e morrendo. É assim que me mantenho “relevante”.

Claro, há muitos mais atentos que eu, mas realmente gosto do mercado. Então, mesmo que só queira saber o futuro do cripto, vá ao evento, nem que seja só para observar.

Mensagem Final

• Apresentador: Que conselho você daria aos jovens que querem dar a volta por cima no cripto? Se você estivesse no lugar deles, o que faria? Em que focar, como ajustar a mentalidade, que estratégia adotar para chegar onde você chegou?

Arthur Hayes: Tempo e juros compostos. São as forças mais poderosas do universo.

Pense: desde 1913, o Fed persegue meta de 2% de inflação, e só isso já fez o dólar perder 99% do valor. Então, mesmo pequenos retornos, se compostos, geram riqueza enorme.

Deixe de lado a fantasia de enriquecer rápido com alavancagem. Você pode sentir essa tentação, mas o mais importante é entender a matemática dos juros compostos e ter paciência. Se quiser mesmo o caminho “alto risco, alto retorno”, como trading alavancado, tem que ser trader profissional, 24/7, entender microestrutura, produtos, liquidez.

Se não quer se dedicar tanto, compre à vista, sem alavancagem. Separe parte da renda mensal, compre cripto que acredita e esqueça, não fique mexendo.

Porque, a menos que queira virar trader de alta volatilidade e contratos perpétuos, tentar “apostar para virar” só vai te quebrar.

 

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